A comarca de Tavira na “Corografia Portugueza e descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal”, do padre António Carvalho da Costa, impressa em 1712.
Tavira situa-se a 4 léguas da foz do Guadiana. O seu rio Séqua é atravessado por ponte de 7 arcos com duas torres [hoje incorrectamente chamada ponte romana].
O seu castelo, já antigo e com fortes muros, foi ampliado no tempo de D. Dinis.
Topograficamente, é de fácil subida e circula um espaço de terra menos levantada, na qual está a maior parte da povoação. É rodeada de campos e terras hortícolas, onde crescem árvores e hortas. Entre o mar e terra firme corre uma lagoa de água salgada que fornece parte do peixe consumido na cidade; o resto do pescado vem do mar.
Segundo esta corografia, a 1ª fundação de Tavira deve-se a el-Rey Brigo (o padre António Carvalho da Costa baseia-se, para este assunto, em João Sedenho; há muitas referências a outras cidades portuguesas fundadas por este mesmo rei), e é por ele apelidada Talabriga [outra teoria diz que a antiga Balsa era Tavira; no entanto, isto é polémico e já tem vindo a ser refutado].
Em 1242, D. Paio Peres Correia conquista-a aos mouros, cujo chefe na altura era Aben Falula.
Destruída por várias guerras, foi reedificada por D. Afonso III em 1268 e foi elevada ao estatuto de cidade com D. Manuel. As suas Armas são uma ponte com uma Nau no seu porto Marítimo.
Tem juiz de fora e voto em Cortes, tendo assento no segundo banco, e a sua feira anual é a 4 de Outubro.
A uma légua para Nascente, começou-se a edificar um forte, obra de D. Sebastião.
Quanto ao seu alcaide-mor, é Henrique Correia da Silva.
Conta [à altura da impressão da corografia] com 3.200 vizinhos nobres e duas paróquias, Santa Maria e São Tiago. Santa Maria era a Igreja Matriz e conta com um Prior, dois beneficiados da ordem de Santiago e quatro do hábito de São Pedro. São Tiago também conta com um prior e quatro beneficiados do hábito de São Pedro.
Tem ainda com uma Casa da Misericórdia, um Hospital, um hospital para os passageiros (estrangeiros/visitantes?) 6 ermidas, Convento de S. Francisco (antigo celeiro dos Mouros e que na altura com 40 frades), Convento de Santo António dos Piedosos (fundado com esmolas do povo, começado a construir em 1612, sendo Ministro Provincial Frei João do Porto e Bispo do Algarve D. Fernão Martins Mascarenhas), o Convento de Nossa Senhora da Ajuda (Paulitas), o Convento de Nossa Senhora da Graça (eremitas de S. Agostinho) e ainda, fora de muros, um Mosteiro de Freiras Bernardas (que anteriormente pertencia aos Templários) e quatro ermidas.
As seis freguesias do termo de Tavira apontadas pela Corografia são:
• Nossa Senhora da Conceição, pertencente à ordem de Santiago;
• Nossa Senhora da Luz
• Nossa Senhora da Graça, situada em Moncarapacho, e que possuía uma ermida do Santo Cristo
• Santo Estêvão
• Santa Catarina da fonte do Bispo.
O corregedor de Tavira tinha também associadas a si mais duas vilas: Cacela [a actual Cacela Velha] e Castro Marim.
Quanto à vila de Cacela, diz-nos este documento que foi conquistada aos mouros por D. Sancho II e que mais tarde veio a ser doada a D. Paio Peres Correia.
Tinha 250 vizinhos e estava bem provida de pão, vinho, frutas, gado, caça e muito peixe.
Para além disso, tinha uma Igreja Paroquial de Invocação a Santa Maria, um Priorado da ordem de Santiago e 3 ermidas.
Já em relação a Castro Marim, diz-nos a Corografia que fica situada defronte de Ayamonte e tem um Castelo forte, adornado com 3 torres.
É considerada [como o foi até muito tarde] a melhor praça de armas do Algarve, e o conhecido Forte de São Sebastião.
Foi mandada povoar por D. Afonso III a 8 de Julho de 1277 e mais tarde, a 01 de Maio de 1282, recebe novos privilégios concedidos por D. Dinis.
É importante e interessante que tem votos em Cortes, com assento no banco 13, e que os seus alcaides-mores são os Condes de Soire.
Conta com 600 vizinhos, uma paróquia de invocação a Santiago, com Prior, e um beneficiado da ordem militar deste santo.
Possui Casa da Misericórdia e as seguintes ermidas: S. Sebastião, S. António, Nossa Senhora dos Mártires e S. Bartolomeu.
São referidas as suas salinas, que abastecem todo o Algarve. Para além disso, tem boas provisões de pão, vinho, frutas, gado, caça, peixe e muitas figueiras, que eram na altura o principal negócio dos seus moradores.
No termo desta vila contam-se 320 vizinhos e 2 lugares, Azinhal (com igreja paroquial de invocação ao Espírito Santo, sendo Curado do Bispo) e Odeleite (com igreja paroquial dedicada a Nossa Senhora da Assunção, cujo Capelão Curado pertencia à Ordem de Santiago).
Conhece tudo de algo e algo de tudo.
Queria se a primeira...
ResponderExcluirAcho esta ideia muito interessante... neste Séc. XXI em que a blogosfera foi considerada por alguns como o 5º poder... depois do executivo, o legislativo, o judicila e a tão querida imprensa!
Continua e divulga junto de quem te seguir estas matérias de que tanto gostas!
Parabéns...
Excelente iniciativa :)
ResponderExcluirCertamente que este blog vai encontrar muitos interessados e vai enriquecer o panorama de investigação na Internet.
Deixo então os meus votos de sucesso para este projecto.
Beijinhos.
Fantástico! Este livro está digitalizano na Biblioteca Nacional Digital [www.purl.pt/434]
ResponderExcluirObrigada! Eu por acaso não o encontrei na BN, mas sim no google books, que se tem revelado um "ajudante" 5 estrelas :)
ResponderExcluirHá tanto ainda para descobrir! Ontem descobri umas coisitas engraçadas sobre Vila Real de Santo António, e se tudo correr bem, espero ao final desta manhã já ter um novo post sobre essa vila =)
Perdão, vila não, cidade!
ResponderExcluirParabéns pelos 'posts' tão interessantes. Vou juntar o seu 'blog' a lista dos meus favoritos.
ResponderExcluirUm admirador da obra geográfica de José Baptista da Silva Lopes e leitor compulsivo de corografias antigas.