terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Concelho de Castro Marim na corografia de 1841 (1ª parte - Castro Marim)

Concelho de Castro Marim na “Corografia, ou memória económica, estadística e topográfica do Reino do Algarve”, de João Baptista da Silva Lopes, 1841


1) Castro Marim


É pequeno em extensão, mas tem menos terras más, principalmente nas margens das ribeiras.

Confina a Sul com o concelho de Vila Real de Santo António, a Oeste com o de Tavira, com Alcoutim a Norte e com o Rio Guadiana a Este.

É uma antiga vila a légua e meia de Vila Real de Santo António e esteve encerrada no castelo que ainda hoje existe e que foi a cabeça da Ordem de Cristo desde que esta se estabeleceu em Portugal em 1313.

Foi doada a esta ordem por D. Dinis em 14 de Maio de 1320 e o foral foi-lhe concedido por D. Afonso III em 1277. Tinha votos em cortes e assento no banco 12 [notar que este ponto vai ao encontro da Corografia de 1712].

Em 1288 convencionou-se (entre Pedro Pires, almoxarife de Castro Marim e Tavira, outros homens-bons e homens de Ayamonte) que em nenhuma destas povoações (Castro Marim e Ayamonte) se poria entraves aos direitos das barcas e baixéis que viessem de qualquer ponto de algum dos dois reinos, quer estivessem carregados ou descarregados.

A 10 de Abril de 1421, foi dado por D. João I couto a 40 homiziados (desde que não fossem criminosos de traição, aleive, moedeiros falsos, hereges ou sodomitas) para que a população de Castro Marim pudesse aumentar. Esta medida foi confirmada por D. João II em 1485 e por D. Manuel em 1497.

Em 1453, D. Afonso V assina o regimento dado a Manoel Pessanha sobre o que as chavegas que ali fossem pescar deviam pagar.

Em 1580, foi nesta vila publicado por 3 governadores nomeados por D. Henrique a sentença que tinham já assinado em Ayamonte. Nesta sentença se adjudica a coroa de Portugal a Filipe II (I de Espanha).

Dentro do castelo de Castro Marim situava-se a Igreja Matriz, destruída pelo terramoto. Este castelo, no cimo de um monte ao redor do qual se situa a população, contém ainda quartéis, nos quais estava aquartelado o batalhão de caçadores 4 em 1886. Estes quartéis podiam servir para a companhia de veteranos que então, por utilidade pública, aqui se encontrava.

Tem uma estrada coberta que comunica com o forte de S. Sebastião, que está bem artilhado.

Ayamonte fica a distância tão pouca que está ao alcance dos tiros do Castelo, bem como do Forte. De tal maneira isto é verdade que estes edifícios sofrem danos com a guerra de 1801.

O juiz de fora de Castro Marim é o mesmo de Vila Real de Santo António, ainda que os conselhos sejam separados e com câmaras diferentes.

A freguesia, que pertence a São Tiago, tem a sua sede na Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, aumentada por D. Francisco Gomes, Bispo do Algarve. Tem esta freguesia elevados rendimentos, oferecidos sobretudo pelo povo a 15 de Agosto, dia da festa da Senhora dos Mártires e também dia da feira de Castro Marim.

Os terrenos de Castro Marim produzem trigo, legumes, azeite, frutas (de caroço e pevides), laranja e limão. Na zona da ribeira do Beliche há também “guapas terras de pão”. Tem salinas de muito boa qualidade e que fornece sal que se exporta sobretudo para as pescarias de laraxe. Exportam-se também obras de palma e rendas de linha.

Quanto à comenda, consistia em terrenos doces e foram arrendados em 1831 por 382.000 réis cativos de décima e despesas; à alcaidaria mor correspondiam os terrenos salgados, arrendados no mesmo ano por 465.980 réis cativos de décima e despesas.

Tem pouca actividade piscatória: os marítimos matriculados são 229, e os pescadores pescam à linha e com gorazeiras, afastando-se pouco da costa. Tem 16 cabiques e lanchas para pescaria. Pescam-se pescadas, besugos, safios, peixe-prego e outros, que se vendem aos espanhóis ou que são consumidos em terra. Quanto aos barcos viageiros, exportam alguns géneros para Mértola ou Gibraltar, não sendo da sua competência a pesca no Guadiana.

Atente-se na seguinte descrição:

“No dia do terramoto levantou-se hum vento muito fresco e frio ás 9 horas da manhã; sobreveio logo um ruído da parte de Tavira, como trovões surdos, e seguio-se tremer a terra. O arrabalde do Norte apenas soffreo a deslocação de algumas pedras que ornavão a porta da villa; a parte fronteira a Hespanha, e a do mar, ficou raza; a rua da ribeira toda por terra; na igreja matriz, antes dos Templários, no mais alto da villa, não ficou pedra sobre pedra; os armazéns e quartéis todos forão arrazados; e as peças, que estavão nas baterias, sumirão-se nas rachaduras; a igreja de N. Sr.ª dos Martyres ficou ilesa: morrerão só três pessoas”.

D. Francisco de Melo da Cunha Mendonça e Menezes, monteiro mor do reino, torna-se Conde de Castro Marim por decreto de 14 de Novembro de 1802.






Conhece tudo de algo e algo de tudo.

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